Premiere Combate

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Jigoro Kano


Nascido em 28 de outubro de 1860, em Mikage, prefeitura de Hyogo no Japão, terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, alto funcionário da marinha imperial, seus pais queriam que seguisse a carreira de diplomata ou político, mas Jigoro Kano preferiu o magistério, embora de personalidade marcante, possuía físico franzino, medindo 1,50 metros de estatura e pesando uns escassos de 48 kg, o que dificultava o seu ingresso na maioria dos esportes. Em 1871 com 11 anos de idade foi mandado para Tóquio para estudar o idioma inglês, então indispensável para o progresso em qualquer sentido e que, possibilitou mais tarde tornar-se professor e tradutor dessa língua e ainda montar sua própria escola em Tóquio, a Kobukan (escola de inglês).
Aos 16 anos, decidiu fortificar o corpo, praticando a ginástica, o remo e o basebol. Mas estes desportos eram demasiados violentos para sua débil constituição. Além disso, nas brigas entre estudantes, Kano era sistematicamente vencido. Ferido na sua qualidade de filho de um Samurai decidiu estudar o
jiujitsu. Quem lhe ensinou os primeiros passos foi o professor Teinosuke Yagi. Posteriormente, em 1877, matriculou-se na Tenshin Shinyo Ryu, sendo discípulo do mestre Hachinosuke Fukuda. Em 1879, com a idade de 82 anos, Fukuda morreu e Kano herdou seus arquivos. Tornou-se em seguida aluno do mestre Masatomo Iso, um sexagenário que possuía os segredos de uma escola derivando igualmente do Teshin Shinyo Ryu.
Continuando o seu treinamento, Jigoro Kano torna-se vice-presidente da escola. Infelizmente, Masatomo Iso, morreu muito cedo e Kano novamente encontrou-se sem professor. Contudo Kano continuou a treinar intensamente, mas um bom professor lhe era indispensável. Foi então que procurou o mestre Tsunetoshi Likugo que lhe ensinou a técnica da escola Kito Ryu. Como Kano até então só praticara sempre as lutas corpo a corpo, sempre usando roupas normais, a escola de Kito ensinou-lhe o combate com armadura. Pouco a pouco, Kano fez a síntese das diversas escolas criando um sistema próprio de disciplina, continuando, no entanto a treinar com o mestre Likugo até 1885.

Kodokan
Em fevereiro de 1882, Jigoro Kano inaugura sua primeira escola denominada Kodokan (Instituto do Caminho da Fraternidade). A Kodokan estava localizada no segundo andar de um templo budista Eishoji de Kita Inaritcho, bairro de Shimoya em Tóquio, onde havia doze jos (jo medida de superfície, módulo de tatame). O primeiro aluno inscreveu-se em 05 de junho de 1882, chamava-se Tomita. Depois vieram Higushi, Arima, Nakajima, Matsuoka, Amano Kai e o famoso Shiro Saigo (Sugata Sashiro). As idades oscilavam entre 15 e 18 anos. Kano albergou-se e ocupou-se deles como se fosse um pai. Foi um período difícil, mas apaixonante, o jovem professor não tinha dinheiro e o shiai-jo media 20m², mas a escola progrediu e em breve tornou-se célebre.

Eu estudei jujutsu não somente porque o achei interessante, mas também, porque compreendi que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Porém, era necessário aprimorar o velho jujutsu, para torná-lo acessível a todos, modificar seus objetivos que não eram voltados para a educação física ou para a moral, nem muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, como as escolas de jujutsu apesar de suas qualidades tinham muitos defeitos - concluí que era necessário reformular o jujutsu mesmo como arte de combate. Quando comecei a ensinar o jujutsu estava caindo em descrédito. Alguns mestres desta arte ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, por meio de lutas, cobrando daqueles que quisessem assistir. Outros se prestavam a ser artistas da luta junto com profissionais de sumô. Tais práticas degradantes prostituíam uma arte marcial e isso me era repugnante. Eis a razão de ter evitado o termo jujutsu e adotado o do judô. E para distinguí-lo da academia Jikishin Ryu, que também empregava o termo judô, denominei a minha escola de Judô Kodokan, apesar de soar um pouco longo.

Técnicas
Jigoro Kano desenvolveu as técnicas de amortecimento de quedas (ukemis), bem como criou uma vestimenta especial para o treino do judô (o judogui), pois o uniforme utilizado pelos cultores de jujutsu, denominado hakamá provocava freqüentemente ferimentos. A nova arte do mestre tinha duas formas distintas, uma abrangia as técnicas de queda, imobilizações, chaves e estrangulamentos. Essa forma evoluiu para o esporte e a outra parte consistia nas técnicas de golpear com as mãos e os pés, em combinações com agarramentos e chaves para imobilização, inclusive ataques em pontos vitais,
atemi-waza. Essa forma evoluiu para a defesa pessoal, goshin-jutsu.




Morte
Jigoro Kano nos legou vários manuscritos, nos quais em geral assinava com pseudônimos, dentre estes, um muito usado por ele era "Ki Itsu Sai" que quer dizer, tudo é unidade. Kano também era poliglota, pois falava quatro línguas além do japonês, francês, alemão, inglês e espanhol. Lamentavelmente a 04 de maio de
1938, morre Jigoro Kano de problemas pulmonares, a bordo do transatlântico "Hikawa Maru", quando voltava do Cairo, onde havia presidido a assembléia geral do comitê internacional dos jogos olímpicos. Não houve para ele tempo de assistir a Universidade do Judô, mas tinha certeza da sua perpetuação. "Quando eu morrer, o Judô Kodokan não morrerá comigo, porque muitas coisas virão a ser desenvolvidas se os princípios de minha arte continuarem sendo estudados".

Cronologia
1860 – Nasceu em Mikage, prefeitura de Hyogo em 28 de outubro. Terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, ele recebeu o nome de infância Shinnosuke.
1871 – Ingressou na Seitatsu Shojuku, uma escola privada de
Tóquio, onde ele recebeu aulas de Keido Ubukata.
1873 – Entrou na Ikuei Gijuku, uma escola privada em Karasumori, Shiba, Tóquio. Recebeu instruções especiais em Inglês e Alemão de professores nativos.
1874 – Ingressou na escola de línguas estrangeiras de Tóquio.
1875 – Ingressou na escola Kaisei.
1877 – Ingressou na escola Tenshin Shin’Yo e estudou com Hachinosuke Fukuda.
1878 – Fundou o primeiro clube de basebol do
Japão (Kasei Baseball Club).
1879 – Estudou o
jujutsu na escola do mestre Masatomo Iso.
1881 – Formou-se pela Universidade Imperial de Tóquio, em Literatura, Ciências Políticas e Política Econômica. Estudou o
jujutsu na escola Kyto-Ryu com o mestre Tsunetoshi Likugo.
1882 – Começou a dar palestras e mais tarde passou a professor em Gakushuin. Fundou a
Kodokan. Terminou seus estudos de Ciências Estéticas e Morais.
1883 – Fundou o Kobukan, uma escola para estudantes chineses e passou a ser Diretor.
1884 – É adido ao Palácio Imperial.
1885 – Obteve a 7ª Categoria Imperial.
1886 – Passou a vice-diretor da Gakushuin. Obteve a 6ª Categoria Imperial.
1889 – Deixou de ser vice-diretor em Gakushuin para aceitar na Casa Imperial um cargo. Fez uma viagem à Europa, onde visitou organizações educacionais.
1891 – Casou-se com Sumako, filha mais velha do então embaixador coreano, Seizei Takezoe, da qual teve nove filhos, seis meninas e três meninos. Tornou-se diretor da quinta escola de segundo grau, na prefeitura de Kumamoto. Em abril é nomeado conselheiro do Ministro da Educação Nacional.
1893 – Tornou-se diretor da primeira escola de segundo grau de Tóquio, subseqüentemente diretor da escola normal de Tóquio.
1895 – Obteve a 5ª Categoria Imperial.
1897 – Demitiu-se da escola normal de
Tóquio, mas tarde, aceita seu cargo de volta. Criou a sociedade Zoshi-Kai e funda os institutos Zenyo Seiki, Zenichi, para a cultura dos jovens. Editou a revista “Kokusai”.
1898 – Foi diretor da educação primária no Ministério da Educação Nacional.
1899 – Tornou-se presidente da comissão do Butokukai (Centro de Estudos das Artes Marciais).
1901 – Tornou-se diretor da escola normal de Tóquio pela terceira vez. Nesta época, o judô e o kendô alcançam uma grande popularidade.
1902 a 1905 – Foi enviado por duas vezes a China pelo Ministro Nacional em missão cultural. Em outubro de 1905 obteve a 4ª Categoria Imperial.
1907 – Fundou no Butokukai os três primeiros katas do judô.
1909 – Tornou-se o primeiro japonês membro do comitê olímpico internacional. Modificou os estatutos do
Kodokan, tornando-o uma entidade pública.
1911 – Foi eleito presidente da Federação Desportiva do Japão.
1912 – Foi enviado em missão cultural à Europa e América.
1915 – Fundou a revista Kodokan. Recebeu do rei da Suécia por ter participado ativamente da organização dos 7º Jogos Olímpicos a medalha de honra ao mérito.
1920 – Consagrou-se inteiramente ao judô. E julho, assistiu aos Jogos Olímpicos de Antuérpia, visitando depois a Europa.
1921 – Demitiu-se da presidência da Federação Desportiva do Japão.
1922 – Eleito membro da Casa dos Nobres.
1924 – Foi nomeado professor honorário da Escola Normal Superior de Tóquio (Tóquio Higner School).
1928 – Esteve presente nos
Jogos Olímpicos em Amsterdã como membro do COI.
1932 – Deslocou-se aos Estados Unidos para assistir aos
Jogos Olímpicos de Los Angeles. Tornou-se conselheiro do gabinete de Educação Física do Japão. Participou por duas vezes no Conselho dos Jogos Olímpicos que lançara o convite para os jogos japoneses (1932-1934).
1936 – Assistiu aos XI Jogos Olímpicos de Berlim.
1938 – Esteve na Reunião do COI no
Cairo, onde propôs que Tóquio fosse escolhida como sede dos XII Jogos Olímpicos. Morreu em 04 de maio, no mar, na viagem de volta. Recebeu a título póstumo o 2º Grau Imperial.
Essas são algumas de suas muitas atividades, outras não foram aqui mencionadas, sabendo-se que a sua busca de realizações foram muito além do normal, notadamente para quem como Kano introduziu também o desporto e a educação física no plano educacional do Japão, fato esse já seria suficiente para perpetuar seu nome como educador e como esportista.
Por tudo que esse grande mestre nos legou, concluímos que ele sempre esteve muito avançado sobre o seu tempo. Hoje, nosso mestre é cultuado em sua pátria e também em todos os países do mundo.
Dos mais modestos aos mais requintados dojos, centenas de milhares de esportistas usufruem de sua obra: o JUDÔ.


Jigoro Kano aclama o Aikido como Budo ideal.
No outono de 1925, depois de insistentes pedidos de seu admirador, Almirante Isamu Takeshita, Morihei Ueshiba foi a Tóquio para realizar uma demonstração de
Aikido diante de uma distinta platéia, entre a qual se encontrava o ex-primeiro ministro Conde Gonnohyoe Yamamoto.
O Conde Yamamoto ficou profundamente impressionado pela demonstração do fundador do Aikidô e solicitou-lhe que dirigisse um seminário especial de 21 dias, no palácio anexo de Aoyama, para especialistas de alto nível de Judô e Keido do pessoal da Casa Imperial.
Em outubro de 1930, Jigoro Kano, fundador do Judô Kodokan, teve oportunidade de ver a arte magnífica do mestre Morihei Ueshiba, o
Aikido, e aclamou-a como Budo ideal, e até mesmo, enviou-lhe alguns de seus melhores alunos.
Atribuídas
“O adversário é um parceiro necessário ao progresso, a vida da humanidade baseia-se neste princípio”.
“Não se envergonhe por causa de um erro, você estaria cometendo uma falta”.
“É somente através da ajuda mútua e das concessões recíprocas que um organismo agrupando indivíduos em número grande ou pequeno pode encontrar sua harmonia plena e realizar verdadeiros progressos”.
“Vencer o hábito de usar a força contra a força é uma das coisas mais difíceis do treinamento do judô. Caso não se consiga isto não se pode esperar progresso”.
“A simplicidade é a chave de toda arte superior, da vida e do judô”.
“Sutileza na técnica e finura na estética são úteis para a eficácia da arte, mas escapam a qualquer descrição”.
“A derrota na competição e no treinamento não deve ser uma fonte de desânimo ou de desespero. É sinal da necessidade de uma prática maior e de esforços redobrados”.
“Se é por vezes permitido ter excesso de zelo, isto sempre acaba por tornar-se uma fonte de perigo”.
“Os katas são a estética do judô. É no kata que está o espírito do judô, sem o qual é impossível perceber o objetivo”.
“Será que existe um princípio que realmente se aplique a todos os casos? Sim, existe um, é o princípio da eficácia máxima na utilização do espírito e do corpo. Dei a este princípio, de uma generalidade absoluta, o nome de Judô”.
“O judô ultrapassou o estágio primitivo da utilidade para atingir o de uma ciência e de uma arte”.
“A estabilidade mental (ou uma calma inabalável) é um fator importante numa luta de judô. Seria ainda mais importante caso se tratasse de uma luta de vida ou morte”.
“A questão principal é elevar-se acima do problema da vida e da morte da sensação de temor e de apreensão”.
“O judô deve existir para o benefício do homem e não o homem para o judô (competição)”.
“Em qualquer espécie de treinamento o ponto mais importante é libertar-se dos maus hábitos”.
“A idéia de considerar os outros como inimigos só pode ser loucura e fonte de regressão”.
“O judô deve ser mantido acima de toda a escravidão artificial. As novas invenções devem tornar-se conhecimentos comuns”.
“O judô é uma arte e uma ciência. Ele deve ser mantido acima de toda a escravidão artificial e deve ser livre de qualquer influência financeira, comercial e pessoal”.
“O valor de uma coisa depende da maneira como a abordamos mentalmente e não da coisa em si”.
“O alto valor da habilidade e da qualidade da arte só pode ser obtido elevando-se acima da dualidade da competição”.
“O judô não deve ser revestido por um rótulo nacional, racial, político, pessoal ou sectário”.
“Quando se percebe a potência do judô, compreende-se que não pode usá-lo levianamente, pois ele pode ser tão perigoso quanto uma espada desembainhada”.
“O melhor uso que se pode fazer de uma espada é não utilizá-la, o pior é servir-se dela”.
“Ambição e rivalidade, cuidadosamente dosadas, são estimulantes do progresso. Porém em quantidade excessiva, transformam-se em venenos destrutivos”.
“À medida que se progride no estudo do judô, o sentido de confiança em si mesmo, base do equilíbrio mental, se desenvolve”.
“A habilidade é função de um ato inconsciente automático. O controle consciente de todos os fatores é impossível, pois uma entrada só é possível num espaço de tempo igual ao de um raio”.
“As fonte estimulantes da ação são o instinto criador e o espírito de aventura”.
“A situação do mundo e dos assuntos humanos, atualmente, se assemelham muito à dos principiantes sobre a esteira de judô”.
“A saída de vida depende do jogo harmonioso de nossos instintos”.
“Nossos braços são movidos pelo deslocamento do corpo do adversário. Como se dele fizessem parte”.
“Tender a perfeição é o princípio do treinamento de judô”.
“A despeito das aparências ‘eu’ e ‘mim’ são os fatores mais negligenciados no pensamento humano”.
“Cada ação do corpo é tão importante quanto um elo numa corrente”.
“Sem uma clara compreensão do sentido do movimento não se podem esperar progressos reais”.
“O conhecimento do corpo para ser eficaz não é necessariamente o alto conhecimento científico do engenheiro, mas sim aquele, prático do operário”.
“Devemos nos lembrar que a essência do esporte não está na marca ou no escore, mas nos esforços e na habilidade despendidos para atingi-los”.
“A maneira de treinar depende de uma ação consciente, mas o objetivo do treinamento é conseguir o domínio da técnica, o que é inconsciente”.
“A dualidade e a condição da vida. Sem oposto nem contrastes, a vida não é vida”.
“O judô pode ser considerado como uma arte, ou uma filosofia do equilíbrio, bem como um meio para cultivar o sentido e o estado de equilíbrio”.
“Somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e sobre tudo muita humildade.”

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